
Manifestantes protestam na Esplanada dos Ministérios contra preço dos combustíveis.
Diante daquele paciente acamado, já bastante debilitado, a junta médica analisa detalhadamente todos os exames disponíveis, colocados um a um sobre a mesa, a fim de traçar uma radiografia completa, um diagnóstico preciso, e identificar qual a melhor estratégia para combater a doença. Aquela jovem doente está deitada eternamente em uma maca (ou seria um berço esplêndido?) ao som de um mar de caminhões parados e à luz de um céu profundo, tão profundo quanto a crise moral, política, ética e econômica brasileira. Qual é o nome dela? Democracia brasileira, informa o prontuário.
Combalida, esta jovem tem enfrentado uma série de percalços ao longo dos últimos anos, a ponto de já haver quem a coloque em xeque. Com um pé na cova. Será? Fato é que ela está adoecida, infestada por parasitas engravatados que, protegidos pelo foro privilegiado e outras tantas regalias, sugam o sangue de uma nação tão marcada por injustiças, desigualdade e miséria de toda a sorte.
Nos últimos anos, a sociedade brasileira assiste com perplexidade o tsunami de lama que varre as mais altas esferas da República, os mais altos escalões do poder, revelando nefastos esquemas de corrupção que desviam bilhões e bilhões de reais dos cofres públicos. E esse show de horrores, encenado no Distrito Federal e em tantas outras Brasílias espalhadas por aí, gerou um desabastecimento da esperança do eleitor, quase uma ‘pane seca’ na confiança do brasileiro — isso fica claro quando quase um terço do eleitorado optou pelo voto em branco, anulou ou absteve-se na eleição de 2014.
Em meio à crise de crença que o país enfrenta, já desde 2013 há nas ruas — e principalmente nas redes, novas arenas modernas — grupos que defendem a necessidade de uma intervenção militar, mesmo após a barbárie vivida pelo Brasil durante a ditadura — que começou com uma intervenção temporária e durou sombrios 21 anos (1964 até 1985), com centenas de assassinatos e a prática de tortura como política institucional, corrupção, censura à imprensa, restrição aos direitos políticos e às liberdades individuais. Não aprendemos a lição?
A intervenção militar não encontra guarida na Constituição Federal, no Estado de Direito e é ainda uma ofensa à história do Brasil. Mas é democrático. O pedido pela intervenção militar só é manifestado e ouvido porque vivemos em uma democracia. É como diz aquela frase: posso não concordar com o que você diz, mas defendo até a morte o seu direito de dizer o que você pensa.
Se a democracia brasileira está doente, a intervenção militar é o remédio?
Dar esse medicamento à democracia brasileira é como mandar o jovem paciente para a câmara de gás para curá-lo de sua doença.
A democracia, é claro, de ajustes. Que alteremos o remédio então. Ou troquemos o médico. Mas mantê-la viva é imprescindível. Inegociável. Que a jovem democracia brasileira se restabeleça distante dos porões do autoritarismo.
Afinal, a democracia (e com ela a liberdade) morre na escuridão.